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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Talento de Cuiabá



A viola de cocho, um dos símbolos da cultura mato-grossense, ganhou uma nova versão em Cuiabá. As cinco cordas - na maioria das vezes, quatro de tripa animal e uma de aço - deram lugar a quatro, sendo todas de aço. O instrumento, cujo som embala as rodas de cururu e siriri no estado, agora pode soar rock'n'roll. A viola saiu de cena. E deu lugar à guitarra. Mas não qualquer uma. A guitarra de cocho.

O autor da novidade é o músico e produtor musical cuiabano Caio Espíndola Schlösser, de 27 anos. Chamada por ele de 'Original', a primeira guitarra de cocho de que se tem notícia foi feita por uma questão de necessidade. Guitarrista e vocalista da dupla Billy Brown e o Incrível Magro de Bigodes ('Eu sou o Billy', ressalta), ele queria que o primeiro álbum deles tivesse forte elemento regional.

Eu queria trazer Cuiabá pra dentro da banda. Não sabíamos ainda qual instrumento, mas tinha que ser algo daqui. A viola de cocho é percussiva, não é harmônica e nem melódica. E o que eu precisava, mais do que tudo, era de uma harmonia numa melodia. Eu nem tinha pensado nesse som dela. E aí veio a grande ideia: 'Cara, e se eu colocar um captador nela?'”, conta.

Porém, algumas pessoas alertaram para os riscos da ideia, como o fato de a madeira ser muito macia e, por isso, correr o risco de ressonar demais. “Mas, era exatamente isso que eu estava procurando. Eu precisava dessa ressonância”, disse Espíndola. Então, há duas semanas ele foi até uma loja de artesanato e comprou uma viola de cocho. Entretanto, o produtor musical ainda tinha certas restrições ao instrumento.

"Nunca tinha tocado em uma viola de cocho. Eu nem gostava do som, para você ter uma ideia. É um instrumento que parou na evolução, é tribal. É mais percussivo", confessa. Ainda assim, arriscou, usando a própria experiência adquirida na regulagem de instrumentos. Instalou o cordal de um cavaquinho. Depois, colocou cordas de nylon, mas o som não ficou legal.

Na segunda tentativa, escolheu quatro cordas de guitarra que achava que dariam um bom equilíbrio. Deu certo. "Fiquei chocado. Ela responde diferente. Tem muita coisa que é particular e peculiar dela. Achei muito legal. É um campo totalmente novo", conta. Esse foi o primeiro instrumento criado pelo músico, que é autodidata, cresceu em família evangélica e começou a se interessar por música aos 8 anos de idade.

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